Pressuposto darwinista do socialismo
«Já alguns anos antes de 1845 estávamos ambos
[Marx e Engels] a aproximar-nos gradualmente
desta proposição que, na minha opinião, está
destinada a fazer pela história o que a teoria
de Darwin fez pela biologia.»
«Na minha maneira de ver, está vocacionado
para fundamentar na ciência da história o
mesmo progresso que a teoria de Darwin fundamentou
na ciência da natureza».
(F. Engels, Prefácio e notas de rodapé do
Manifesto do Partido Comunista)
«As classes e as raças demasiadamente fracas
para conduzir as novas condições de vida
devem deixar de existir.»
«Devem perecer no holocausto revolucionário.»
(Karl Marx, in Jornal do Povo e Jornal da História das Ideias)
«A história de toda a sociedade até aqui
é a história de lutas de classes. (...) Em
suma, opressores e oprimidos estiveram em
constante oposição uns aos outros, travaram
uma luta ininterrupta, ora oculta ora aberta,
uma luta que de cada vez acabou por uma reconfiguração
revolucionária de toda a sociedade ou pelo
declínio comum das classes em luta. (...)
A sociedade toda cinde-se, cada vez mais,
em dois grandes campos inimigos, em duas
grandes classes que diretamente se enfrentam:
burguesia e proletariado. (...)
A burguesia moderna é ela própria o produto
de um longo curso de desenvolvimento, de
uma série de revolucionamentos no modo de
produção e de intercâmbio.
Cada um destes estádios de desenvolvimento
da burguesia foi acompanhado de um correspondente
progresso político. (...)
O moderno poder de Estado é apenas uma comissão
que administra os negócios comunitários de
toda a classe burguesa. (...)
A burguesia, pela sua exploração do mercado
mundial, configurou de um modo cosmopolita
a produção e o consumo de todos os países.
(...) Pelo rápido melhoramento de todos os
instrumentos de produção, pelas comunicações
infinitamente facilitadas, arrasta todas
as nações, mesmo as mais bárbaras, para a
civilização. (...) Numa palavra, ela cria
para si um mundo à sua própria imagem. (...)
Para o seu lugar entrou a livre concorrência,
com a constituição social e política a ela
adequada, com a dominação económica e política
da classe burguesa. (...)
Basta mencionar as crises comerciais que,
na sua recorrência periódica, põem em questão
(...) a existência de toda a sociedade burguesa.
(...)
Nas crises irrompe uma epidemia social (...).
Porque ela possui demasiada civilização,
demasiados meios de vida, demasiada indústria,
demasiado comércio. (...)
E como a burguesia triunfa das crises? Por
um lado, pela aniquilação forçada de uma
massa de forças produtivas; por outro lado,
pela conquista de novos mercados e pela exploração
mais profunda de antigos mercados. (...)
A concorrência crescente dos burgueses entre
si e as crises comerciais que daqui decorrem
tornam cada vez mais oscilante o salário
dos operários; o melhoramento incessante
da maquinaria, que cada vez se desenvolve
mais depressa, torna toda a sua posição na
vida cada vez mais insegura. (...)
Centralizar as muitas lutas locais, por toda
a parte com o mesmo caráter, numa luta nacional,
numa luta de classes.
Mas toda a luta de classes é uma luta política.
(...)
Os estados médios (...) combatem a burguesia
para assegurar, face ao declínio, a sua existência
como estados médios. Não são, pois, revolucionários,
mas conservadores. Mais ainda, são reacionários:
procuram fazer andar para trás a roda da
História. (...)
O proletário está desprovido de propriedade
(...). O trabalho industrial moderno, a subjugação
moderna ao capital (...) tirou-lhe todo o
caráter nacional. As leis, a moral, a religião
são para ele outros tantos preconceitos burgueses,
atrás dos quais se escondem outros tantos
interesses burgueses. (...)
O proletariado, a camada mais baixa da sociedade
atual, não pode elevar-se, não pode endireitar-se,
sem fazer ir pelos ares toda a superestrutura
das camadas que formam a sociedade oficial.
(...)
Seguimos de perto a guerra civil mais ou
menos oculta no seio da sociedade existente
até ao ponto em que rebenta numa revolução
aberta, e o proletariado, pelo derrube violento
da burguesia, funda a sua dominação. (...)
A condição essencial para a existência e
para a dominação da classe burguesa é a acumulação
da riqueza nas mãos de privados, a formação
e multiplicação do capital. (...)
O objetivo mais próximo dos comunistas é
o mesmo do que o de todos os restantes partidos
proletários: formação do proletariado em
classe, derrube da dominação da burguesia,
conquista do poder político pelo proletariado.
(...)
Abolição da propriedade burguesa. (...) Supressão
da propriedade privada.
O capital é um produto comunitário (...);
não é, portanto, um poder pessoal; é um poder
social, (...) pertencente a todos os membros
da sociedade. (...)
O cessar da cultura de classe é idêntico
ao cessar da cultura em geral. (...)
Supressão da família! (...) Sobre que assenta
a família atual, a família burguesa? Sobre
o capital, sobre o proveito privado. (...)
Suprimir a exploração das crianças pelos
pais (...).
À medida que é suprimida a exploração de
um indivíduo por outro, é suprimida a exploração
de uma nação por outra. Com a oposição das
classes no interior da nação cai a posição
hostil das nações entre si. (...)
Que prova a história das ideias senão que
a produção espiritual se reconfigura com
a da material? As ideias dominantes de um
tempo foram sempre apenas as ideias da classe
dominante. (...) O comunismo abole as verdades
eternas, abole a religião, a moral. (...)
1. Expropriação da propriedade fundiária
e emprego das rendas fundiárias para despesas
do Estado.
2. Pesado imposto progressivo.
3. Abolição do direito de herança.
4. Confiscação da propriedade de todos os
emigrantes e rebeldes.
5. Centralização do crédito nas mãos do Estado,
através de um banco nacional com capital
de Estado e monopólio exclusivo.
6. Centralização do sistema de transportes
nas mãos do Estado.
7. Multiplicação das fábricas nacionais,
dos instrumentos de produção, arroteamento
e melhoramento dos terrenos de acordo com
um plano comunitário.
8. Obrigatoriedade do trabalho para todos;
instituição de exércitos industriais, em
especial para a agricultura.
9. Unificação da exploração da agricultura
e da indústria, atuação com vista à eliminação
gradual da diferença entre cidade e campo.
10. Educação pública e gratuita de todas
as crianças. Eliminação do trabalho das crianças
nas fábricas na sua forma hodierna. Unificação
da educação com a produção material, etc..
Desaparecidas no curso de desenvolvimento
as diferenças de classes e concentrada toda
a produção nas mãos dos indivíduos associados,
o poder público perde o caráter político.
Em sentido próprio, o poder político é o
poder organizado de uma classe para a opressão
de uma outra. Se o proletariado na luta contra
a burguesia necessariamente se unifica em
classe, por uma revolução se faz classe dominante
e, como classe dominante, suprime violentamente
as velhas relações de produção; então suprime
juntamente com estas relações de produção
as condições de existência da oposição de
classes, as classes em geral, e, com isto,
a sua própria dominação como classe.
(...) Por toda a parte os comunistas apoiam
todo o movimento revolucionário contra as
situações sociais e políticas existentes.
(...) Declaram abertamente que os seus fins
só podem ser alcançados pelo derrube violento
de toda a ordem social até aqui. Podem as
classes dominantes tremer ante uma revolução
comunista! Nela, os proletários nada têm
a perder a não ser as suas cadeias. Têm um
mundo a ganhar.
Proletários de todos os países, uni-vos!»
(Karl Marx e F. Engels, Manifesto do Partido Comunista)
«O proletário só pode libertar-se suprimindo
toda a propriedade privada em geral. (...)
Na situação da indústria têm-se produzido
continuamente oscilações entre períodos de
prosperidade e períodos de crise, e quase
regularmente (...).
Torna-se imprescindível uma organização completamente
nova da sociedade em que a produção industrial
não seja mais dirigida por uns ou outros
fabricantes em competição uns com os outros,
mas por toda a sociedade sob um determinado
plano e em conformidade com as necessidades
de todos os membros da sociedade. (...)
Assim, a propriedade privada deve também
ser abolida e ocuparão o seu lugar o usufruto
coletivo de todos os instrumentos de produção
e distribuição dos produtos de comum acordo,
o que se chama comunidade de bens. (...)
[A revolução] estabelecerá, em primeiro lugar,
um regime democrático e, portanto, diretamente
ou indiretamente, a dominação política do
proletariado. (...)
1) Restrição da propriedade privada mediante
o imposto progressivo, o alto imposto sobre
as heranças, a abolição do direito de herança
nas linhas laterais (irmãos, sobrinhos, etc.),
empréstimos forçados, etc..
2) Expropriação gradual dos proprietários
agrícolas, fabricantes, proprietários de
ferrovias e navios, em parte com a ajuda
da concorrência por parte da indústria estatal,
em parte, de modo direto, com indemnização
alocada.
3) Confisco dos bens de todos os emigrantes
e rebeldes contra a maioria do povo.
4) Organização do trabalho e ocupação dos
proletários em fazendas, fábricas e oficinas
nacionais, com que se eliminará a concorrência
entre os trabalhadores, e os fabricantes
que ficam terão de pagar salários tão altos
como o Estado.
5) Igual dever obrigatório de trabalho para
todos os membros da sociedade até à completa
abolição da propriedade privada. Formação
de exércitos industriais, especialmente para
a agricultura.
6) Centralização dos créditos e da banca
nas mãos do Estado através do banco nacional,
com capital do Estado. Encerramento de todos
os bancos privados.
7) Aumento do número de fábricas, oficinas,
ferrovias e navios nacionais, cultivo de
todas as terras que estão sem lavrar e melhoria
do cultivo das outras terras em consonância
com o aumento dos capitais e do número de
trabalhadores de que a nação dispõe.
8) Educação de todas as crianças em estabelecimentos
estatais e a cargo do Estado, a partir do
momento em que podem dispensar o cuidado
da mãe. Combinar a educação com o trabalho
fabril.
9) Construção de grandes palácios nas fazendas
do Estado para que sirvam de habitação às
comunas de cidadãos que trabalham na indústria
e na agricultura e unam as vantagens da vida
na cidade e no campo, evitando assim o caráter
unilateral e os defeitos de uma e de outra.
10) Destruição de todas as casas e bairros
insalubres e mal construídos.
11) Igualdade de direito de herança para
os filhos legítimos e os naturais.
12) Concentração de todos os meios de transporte
nas mãos da nação.
Finalmente, quando todo o capital, toda a
produção e todo o câmbio estiverem concentrados
nas mãos da nação, a propriedade privada
deixará de existir por si só, o dinheiro
tornar-se-á supérfluo, a produção aumentará
e os homens mudarão tanto que se poderão
suprimir também as últimas formas de relações
da velha sociedade. (...)
A revolução comunista não será uma revolução
puramente nacional, mas ocorrerá simultaneamente
em todos os países civilizados, quer dizer,
pelo menos na Inglaterra, na América, na
França e na Alemanha. (...) É uma revolução
universal e terá, portanto, um âmbito universal.
(...)
As crises desaparecerão. (...)
(...) Supressão da propriedade privada e
educação das crianças pela sociedade, com
que se destroem as duas bases do matrimónio
atual ligadas à propriedade privada: a dependência
da mulher em relação ao homem e a dependência
dos filhos em relação aos pais.»
(F. Engels, Princípios do Comunismo)
«Uma revolução é certamente a coisa mais
autoritária que se pode imaginar; é o ato
pelo qual uma parte da população impõe a
sua vontade à outra por meio das espingardas,
das baionetas e dos canhões, meios autoritários
como poucos; e o partido vitorioso, se não
quer ser combatido em vão, deve manter o
seu poder pelo medo que as suas armas inspiram
aos reacionários.»
(F. Engels, Sobre a Autoridade)
«Este Estado e esta sociedade produzem a
religião, uma consciência invertida do mundo,
porque eles são um mundo invertido. A religião
é a teoria geral deste mundo, o seu resumo
enciclopédico, a sua lógica em forma popular,
(...) o seu entusiasmo, a sua sanção moral,
o seu complemento solene, a sua base geral
de consolação e de justificação. É a realização
fantástica da essência humana, porque a essência
humana não possui verdadeira realidade. (...)
A miséria religiosa constitui ao mesmo tempo
a expressão da miséria real e o protesto
contra a miséria real. A religião é o suspiro
da criatura oprimida, o ânimo de um mundo
sem coração e a alma de situações sem alma.
A religião é o ópio do povo.
A abolição da religião enquanto felicidade
ilusória dos homens é a exigência da sua
felicidade real. O apelo para que abandonem
as ilusões a respeito da sua condição é o
apelo para abandonarem uma condição que precisa
de ilusões. A crítica da religião é, pois,
o germe da crítica do vale de lágrimas, do
qual a religião é a auréola.
(...) A crítica da religião liberta o homem
da ilusão, de modo que pense, atue e configure
a sua realidade como homem que perdeu as
ilusões e reconquistou a razão, a fim de
que ele gire em torno de si mesmo e, assim,
em volta do seu verdadeiro sol. A religião
é apenas o sol ilusório que gira em volta
do homem enquanto ele não circula em tomo
de si mesmo.
(...) A tarefa imediatada da filosofia, que
está ao serviço da história, é desmascarar
a autoalienação humana nas suas formas não
sagradas, agora que ela foi desmascarada
na sua forma sagrada. A crítica do céu transforma-se
deste modo em crítica da terra, a crítica
da religião em crítica do direito, e a crítica
da teologia em crítica da política.»
(Karl Marx, Crítica da filosofia do direito de Hegel)
«É na prática que o homem tem de demonstrar
a verdade, isto é, a realidade, e a força,
o caráter terreno do seu pensamento. (...)
As circunstâncias são modificadas precisamente
pelos homens e (...) o próprio educador precisa
de ser educado. (...)
Mas a essência humana não é algo abstrato,
interior a cada indivíduo isolado. É, em
sua realidade, o conjunto das relações sociais.
(...)
A vida social é essencialmente prática. (...)
Os filósofos não fizeram mais do que interpretar
o mundo de forma diferente; trata-se, porém,
de modificá-lo.»
(Karl Marx, Teses sobre Feuerbach)
«Como se resolve uma antítese? Tornando-a
impossível. E como se torna impossível uma
antítese religiosa? Abolindo a religião.
(...) A ciência será, então, a sua unidade.
E, no plano científico, a própria ciência
encarrega-se de resolver as antíteses. (...)
(...) O homem liberta-se por meio do Estado.
(...) O Estado é o mediador entre o homem
e a sua liberdade.»
(Karl Marx, A questão judaica)