Revolta contra a ordem vigente e contra o trabalho
«A tolerância, que é o elemento vital, o símbolo de uma sociedade livre, nunca será o dom dos poderes constituídos; (...) nas condições habituais da tirania da maioria, só pode ser vencedora com o esforço sustentado de minorias radicais, dispostas a quebrar essa tirania e trabalhar para o surgimento de uma maioria livre e soberana — minorias intolerantes, militâncias intolerantes e desobediência às regras de comportamento que toleram a destruição e supressão.»
(Herbert Marcuse, Tolerância repressiva)
«Entretanto, a revolta nos países atrasados encontrou uma resposta nos países adiantados, onde a juventude está a protestar contra a repressão na afluência e a guerra no estrangeiro.
É revolta contra os falsos pais, falsos professores e falsos heróis — solidariedade com todos os infelizes da Terra. (...)
Um montante cada vez maior do trabalho efetivamente realizado torna-se supérfluo, dispensável, sem significado. (...)
A redução do dia de trabalho a um ponto em que a mera porção de tempo de trabalho já não paralise o desenvolvimento humano é o primeiro pré-requisito da liberdade. (...)
O homem só é livre quando está livre de coações, externas e internas, físicas e morais - quando não é reprimido pela lei nem pela necessidade. (...)
A reativação da sexualidade polimórfica e narcisista deixa de ser uma ameaça à cultura e pode levar, ela própria, à criação cultural, se o organismo existir não como um instrumento de trabalho alienado, mas como um sujeito de autorrealização — por outras palavras, se o trabalho socialmente útil for, ao mesmo tempo, a transparente satisfação de uma necessidade individual. (...)
Defesa da eutanásia e / ou do suicídio
A morte pode tornar-se um símbolo de liberdade. A necessidade de morte não refuta a possibilidade de libertação final. Tal como as outras necessidades — pode-se tornar também racional, indolor. Os homens podem morrer sem angústia se souberem que o que eles amam está protegido contra a miséria e o esquecimento. Após uma vida bem cumprida, podem chamar a si a incumbência da morte - num momento da sua própria escolha. (...)
«Explosão da ordem social vigente» com a promoção da sexualidade
A sexualidade oferece uma das mais elementares e mais fortes possibilidades de gratificação e felicidade. Se essas possibilidades fossem permitidas dentro dos limites fixados pela necessidade de desenvolvimento produtivo da personalidade, em vez da necessidade de dominação das massas, a realização dessa possibilidade fundamental de felicidade conduziria, necessariamente, a um aumento na reivindicação de felicidade e gratificação em outras esferas da existência humana. A realização dessa reivindicação requer a acessibilidade de meios materiais para a sua satisfação e deve, portanto, acarretar a explosão da ordem social vigente.»
(Herbert Marcuse, Eros e civilização)
Dois destinos diferentes…
Herbert Marcuse permaneceu nos EUA. Na década de 60 houve uma rebelião de estudantes, em grande parte pela resistência à convocação para as forças armadas e para a guerra do Vietname. Encontraram a teoria de que precisavam no livro Eros e civilização. Os EUA perderam vergonhosamente a guerra, e o Vietname tornou-se uma ditadura socialista! Marcuse, já com 70 anos, também participou na revolução estudantil de Maio de 68, em Paris.
Theodor Adorno regressou à Alemanha. Numa rebelião estudantil, alguns estudantes invadiram a sala dele, mas ele chamou a polícia para prendê-los. Personalidade autoritária!... Entretanto, foi alvo de provocação de várias alunas, o que o deixou psicologicamente muito abalado, morrendo poucos meses depois. Acabou por ser vítima das suas próprias ideias!
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