10/09/2013

Karl Marx (2)

Pressuposto darwinista do socialismo

«Já alguns anos antes de 1845 estávamos ambos [Marx e Engels] a aproximar-nos gradualmente desta proposição que, na minha opinião, está destinada a fazer pela história o que a teoria de Darwin fez pela biologia.»

«Na minha maneira de ver, está vocacionado para fundamentar na ciência da história o mesmo progresso que a teoria de Darwin fundamentou na ciência da natureza».

(F. Engels, Prefácio e notas de rodapé do Manifesto do Partido Comunista)

«As classes e as raças demasiadamente fracas para conduzir as novas condições de vida devem deixar de existir.»

«Devem perecer no holocausto revolucionário.»

(Karl Marx, in Jornal do Povo e Jornal da História das Ideias)


«A história de toda a sociedade até aqui é a história de lutas de classes. (...) Em suma, opressores e oprimidos estiveram em constante oposição uns aos outros, travaram uma luta ininterrupta, ora oculta ora aberta, uma luta que de cada vez acabou por uma reconfiguração revolucionária de toda a sociedade ou pelo declínio comum das classes em luta. (...)

A sociedade toda cinde-se, cada vez mais, em dois grandes campos inimigos, em duas grandes classes que diretamente se enfrentam: burguesia e proletariado. (...)

A burguesia moderna é ela própria o produto de um longo curso de desenvolvimento, de uma série de revolucionamentos no modo de produção e de intercâmbio.

Cada um destes estádios de desenvolvimento da burguesia foi acompanhado de um correspondente progresso político. (...)

O moderno poder de Estado é apenas uma comissão que administra os negócios comunitários de toda a classe burguesa. (...)

A burguesia, pela sua exploração do mercado mundial, configurou de um modo cosmopolita a produção e o consumo de todos os países. (...) Pelo rápido melhoramento de todos os instrumentos de produção, pelas comunicações infinitamente facilitadas, arrasta todas as nações, mesmo as mais bárbaras, para a civilização. (...) Numa palavra, ela cria para si um mundo à sua própria imagem. (...)

Para o seu lugar entrou a livre concorrência, com a constituição social e política a ela adequada, com a dominação económica e política da classe burguesa. (...)

Basta mencionar as crises comerciais que, na sua recorrência periódica, põem em questão (...) a existência de toda a sociedade burguesa. (...)

Nas crises irrompe uma epidemia social (...). Porque ela possui demasiada civilização, demasiados meios de vida, demasiada indústria, demasiado comércio. (...)

E como a burguesia triunfa das crises? Por um lado, pela aniquilação forçada de uma massa de forças produtivas; por outro lado, pela conquista de novos mercados e pela exploração mais profunda de antigos mercados. (...)

A concorrência crescente dos burgueses entre si e as crises comerciais que daqui decorrem tornam cada vez mais oscilante o salário dos operários; o melhoramento incessante da maquinaria, que cada vez se desenvolve mais depressa, torna toda a sua posição na vida cada vez mais insegura. (...)

Centralizar as muitas lutas locais, por toda a parte com o mesmo caráter, numa luta nacional, numa luta de classes.

Mas toda a luta de classes é uma luta política. (...)

Os estados médios (...) combatem a burguesia para assegurar, face ao declínio, a sua existência como estados médios. Não são, pois, revolucionários, mas conservadores. Mais ainda, são reacionários: procuram fazer andar para trás a roda da História. (...)

O proletário está desprovido de propriedade (...). O trabalho industrial moderno, a subjugação moderna ao capital (...) tirou-lhe todo o caráter nacional. As leis, a moral, a religião são para ele outros tantos preconceitos burgueses, atrás dos quais se escondem outros tantos interesses burgueses. (...)

O proletariado, a camada mais baixa da sociedade atual, não pode elevar-se, não pode endireitar-se, sem fazer ir pelos ares toda a superestrutura das camadas que formam a sociedade oficial. (...)

Seguimos de perto a guerra civil mais ou menos oculta no seio da sociedade existente até ao ponto em que rebenta numa revolução aberta, e o proletariado, pelo derrube violento da burguesia, funda a sua dominação. (...)

A condição essencial para a existência e para a dominação da classe burguesa é a acumulação da riqueza nas mãos de privados, a formação e multiplicação do capital. (...)

O objetivo mais próximo dos comunistas é o mesmo do que o de todos os restantes partidos proletários: formação do proletariado em classe, derrube da dominação da burguesia, conquista do poder político pelo proletariado. (...)

Abolição da propriedade burguesa. (...) Supressão da propriedade privada.

O capital é um produto comunitário (...); não é, portanto, um poder pessoal; é um poder social, (...) pertencente a todos os membros da sociedade. (...)

O cessar da cultura de classe é idêntico ao cessar da cultura em geral. (...)

Supressão da família! (...) Sobre que assenta a família atual, a família burguesa? Sobre o capital, sobre o proveito privado. (...)

Suprimir a exploração das crianças pelos pais (...).

À medida que é suprimida a exploração de um indivíduo por outro, é suprimida a exploração de uma nação por outra. Com a oposição das classes no interior da nação cai a posição hostil das nações entre si. (...)

Que prova a história das ideias senão que a produção espiritual se reconfigura com a da material? As ideias dominantes de um tempo foram sempre apenas as ideias da classe dominante. (...) O comunismo abole as verdades eternas, abole a religião, a moral. (...)

1. Expropriação da propriedade fundiária e emprego das rendas fundiárias para despesas do Estado.

2. Pesado imposto progressivo.

3. Abolição do direito de herança.

4. Confiscação da propriedade de todos os emigrantes e rebeldes.

5. Centralização do crédito nas mãos do Estado, através de um banco nacional com capital de Estado e monopólio exclusivo.

6. Centralização do sistema de transportes nas mãos do Estado.

7. Multiplicação das fábricas nacionais, dos instrumentos de produção, arroteamento e melhoramento dos terrenos de acordo com um plano comunitário.

8. Obrigatoriedade do trabalho para todos; instituição de exércitos industriais, em especial para a agricultura.

9. Unificação da exploração da agricultura e da indústria, atuação com vista à eliminação gradual da diferença entre cidade e campo.

10. Educação pública e gratuita de todas as crianças. Eliminação do trabalho das crianças nas fábricas na sua forma hodierna. Unificação da educação com a produção material, etc..

Desaparecidas no curso de desenvolvimento as diferenças de classes e concentrada toda a produção nas mãos dos indivíduos associados, o poder público perde o caráter político. Em sentido próprio, o poder político é o poder organizado de uma classe para a opressão de uma outra. Se o proletariado na luta contra a burguesia necessariamente se unifica em classe, por uma revolução se faz classe dominante e, como classe dominante, suprime violentamente as velhas relações de produção; então suprime juntamente com estas relações de produção as condições de existência da oposição de classes, as classes em geral, e, com isto, a sua própria dominação como classe.

(...) Por toda a parte os comunistas apoiam todo o movimento revolucionário contra as situações sociais e políticas existentes. (...) Declaram abertamente que os seus fins só podem ser alcançados pelo derrube violento de toda a ordem social até aqui. Podem as classes dominantes tremer ante uma revolução comunista! Nela, os proletários nada têm a perder a não ser as suas cadeias. Têm um mundo a ganhar.

Proletários de todos os países, uni-vos!»

(Karl Marx e F. Engels, Manifesto do Partido Comunista)

«O proletário só pode libertar-se suprimindo toda a propriedade privada em geral. (...)

Na situação da indústria têm-se produzido continuamente oscilações entre períodos de prosperidade e períodos de crise, e quase regularmente (...).

Torna-se imprescindível uma organização completamente nova da sociedade em que a produção industrial não seja mais dirigida por uns ou outros fabricantes em competição uns com os outros, mas por toda a sociedade sob um determinado plano e em conformidade com as necessidades de todos os membros da sociedade. (...)

Assim, a propriedade privada deve também ser abolida e ocuparão o seu lugar o usufruto coletivo de todos os instrumentos de produção e distribuição dos produtos de comum acordo, o que se chama comunidade de bens. (...)

[A revolução] estabelecerá, em primeiro lugar, um regime democrático e, portanto, diretamente ou indiretamente, a dominação política do proletariado. (...)

1) Restrição da propriedade privada mediante o imposto progressivo, o alto imposto sobre as heranças, a abolição do direito de herança nas linhas laterais (irmãos, sobrinhos, etc.), empréstimos forçados, etc..

2) Expropriação gradual dos proprietários agrícolas, fabricantes, proprietários de ferrovias e navios, em parte com a ajuda da concorrência por parte da indústria estatal, em parte, de modo direto, com indemnização alocada.

3) Confisco dos bens de todos os emigrantes e rebeldes contra a maioria do povo.

4) Organização do trabalho e ocupação dos proletários em fazendas, fábricas e oficinas nacionais, com que se eliminará a concorrência entre os trabalhadores, e os fabricantes que ficam terão de pagar salários tão altos como o Estado.

5) Igual dever obrigatório de trabalho para todos os membros da sociedade até à completa abolição da propriedade privada. Formação de exércitos industriais, especialmente para a agricultura.

6) Centralização dos créditos e da banca nas mãos do Estado através do banco nacional, com capital do Estado. Encerramento de todos os bancos privados.

7) Aumento do número de fábricas, oficinas, ferrovias e navios nacionais, cultivo de todas as terras que estão sem lavrar e melhoria do cultivo das outras terras em consonância com o aumento dos capitais e do número de trabalhadores de que a nação dispõe.

8) Educação de todas as crianças em estabelecimentos estatais e a cargo do Estado, a partir do momento em que podem dispensar o cuidado da mãe. Combinar a educação com o trabalho fabril.

9) Construção de grandes palácios nas fazendas do Estado para que sirvam de habitação às comunas de cidadãos que trabalham na indústria e na agricultura e unam as vantagens da vida na cidade e no campo, evitando assim o caráter unilateral e os defeitos de uma e de outra.

10) Destruição de todas as casas e bairros insalubres e mal construídos.

11) Igualdade de direito de herança para os filhos legítimos e os naturais.

12) Concentração de todos os meios de transporte nas mãos da nação.

Finalmente, quando todo o capital, toda a produção e todo o câmbio estiverem concentrados nas mãos da nação, a propriedade privada deixará de existir por si só, o dinheiro tornar-se-á supérfluo, a produção aumentará e os homens mudarão tanto que se poderão suprimir também as últimas formas de relações da velha sociedade. (...)

A revolução comunista não será uma revolução puramente nacional, mas ocorrerá simultaneamente em todos os países civilizados, quer dizer, pelo menos na Inglaterra, na América, na França e na Alemanha. (...) É uma revolução universal e terá, portanto, um âmbito universal. (...)

As crises desaparecerão. (...)

(...) Supressão da propriedade privada e educação das crianças pela sociedade, com que se destroem as duas bases do matrimónio atual ligadas à propriedade privada: a dependência da mulher em relação ao homem e a dependência dos filhos em relação aos pais.»

(F. Engels, Princípios do Comunismo)

«Uma revolução é certamente a coisa mais autoritária que se pode imaginar; é o ato pelo qual uma parte da população impõe a sua vontade à outra por meio das espingardas, das baionetas e dos canhões, meios autoritários como poucos; e o partido vitorioso, se não quer ser combatido em vão, deve manter o seu poder pelo medo que as suas armas inspiram aos reacionários.»

(F. Engels, Sobre a Autoridade)

«Este Estado e esta sociedade produzem a religião, uma consciência invertida do mundo, porque eles são um mundo invertido. A religião é a teoria geral deste mundo, o seu resumo enciclopédico, a sua lógica em forma popular, (...) o seu entusiasmo, a sua sanção moral, o seu complemento solene, a sua base geral de consolação e de justificação. É a realização fantástica da essência humana, porque a essência humana não possui verdadeira realidade. (...)

A miséria religiosa constitui ao mesmo tempo a expressão da miséria real e o protesto contra a miséria real. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o ânimo de um mundo sem coração e a alma de situações sem alma. A religião é o ópio do povo.

A abolição da religião enquanto felicidade ilusória dos homens é a exigência da sua felicidade real. O apelo para que abandonem as ilusões a respeito da sua condição é o apelo para abandonarem uma condição que precisa de ilusões. A crítica da religião é, pois, o germe da crítica do vale de lágrimas, do qual a religião é a auréola.

(...) A crítica da religião liberta o homem da ilusão, de modo que pense, atue e configure a sua realidade como homem que perdeu as ilusões e reconquistou a razão, a fim de que ele gire em torno de si mesmo e, assim, em volta do seu verdadeiro sol. A religião é apenas o sol ilusório que gira em volta do homem enquanto ele não circula em tomo de si mesmo.

(...) A tarefa imediatada da filosofia, que está ao serviço da história, é desmascarar a autoalienação humana nas suas formas não sagradas, agora que ela foi desmascarada na sua forma sagrada. A crítica do céu transforma-se deste modo em crítica da terra, a crítica da religião em crítica do direito, e a crítica da teologia em crítica da política.»

(Karl Marx, Crítica da filosofia do direito de Hegel)

«É na prática que o homem tem de demonstrar a verdade, isto é, a realidade, e a força, o caráter terreno do seu pensamento. (...)

As circunstâncias são modificadas precisamente pelos homens e (...) o próprio educador precisa de ser educado. (...)

Mas a essência humana não é algo abstrato, interior a cada indivíduo isolado. É, em sua realidade, o conjunto das relações sociais. (...)

A vida social é essencialmente prática. (...)

Os filósofos não fizeram mais do que interpretar o mundo de forma diferente; trata-se, porém, de modificá-lo.»

(Karl Marx, Teses sobre Feuerbach)

«Como se resolve uma antítese? Tornando-a impossível. E como se torna impossível uma antítese religiosa? Abolindo a religião. (...) A ciência será, então, a sua unidade. E, no plano científico, a própria ciência encarrega-se de resolver as antíteses. (...)

(...) O homem liberta-se por meio do Estado. (...) O Estado é o mediador entre o homem e a sua liberdade.»

(Karl Marx, A questão judaica)


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